O Grande Lebowski
Comédia dos Irmãos Coen é um grande besteirol alegórico sobre as banalidades da vida
Após Arizona Nunca Mais e Barton Fink — Delírios de Hollywood, os Irmãos Coen começaram a ganhar cada vez mais espaço dentro da indústria de cinema pela sua irreverência, e, principalmente, originalidade, dividindo públicos entre aqueles que “captavam a brisa” e outros que simplesmente não gostavam (os chamando até de prepotentes). Isso até entrarem para os anais do cinema com Fargo, que lhe renderam indicações nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (na época Melhor Diretor) e a vitória de Melhor Roteiro Original pelo seu texto que dava uma nova cara para histórias do gênero policial.
As suas narrativas tinham como principal recurso o humor, que aproveitava os horizontes e liberdades que o gênero possibilita para abusarem da criatividade. Apesar de Fargo ter sido o filme mais premiado e aclamado dos diretores nos anos 90, foi O Grande Lebowski em 1998 que acabou marcando essa faixa de década com uma comédia completamente irreverente e zoeira, que bebe de referências pulpfictianas para construir algo completamente inusitado, com o intuito de falar sobre questões tão simples como a vida, mas a partir da ótima maluca dos Coen.
A imortalização do longa veio muito graças ao protagonista, Jeffrey Lebowski, mais conhecido como Dude (Jeff Bridges), um homem sedentário, que veste roupas largadas e possui um cavanhaque invejável. O seu impacto na cultura pop, de uma forma geral, foi tão grande que criaram uma religião em sua homenagem: o Dudeísmo, que promove o estilo de vida do personagem, ou seja é uma religião que prega não-pregação: o “take it easy lifestyle”, que faz referência outras religiões como taoísmo e o budismo em suas “escrituras” e “mandamentos”. Pode até parecer uma zoeira, mas ela é levada “a sério” (seguindo as diretrizes da religião de não levar a nada a sério), tanto que até tem um site caso queira se informar melhor (você pode ter um casamento oficializado por um padre dudeísta). Acho que isso por si só, consegue nos dar uma visão do personagem que é de fato, um dos melhores protagonistas do cinema, fazendo com que a audiência se identificasse com ele a ponto de criar uma religião.
A vida monótona de Dude baseada em fumar maconha, beber white russians e jogar boliches, é virada de cabeça para baixo quando três sujeitos aparecem em sua casa cobrando o dinheiro que sua esposa estaria devendo a eles. Sem saber o que aconteceu, ele descobre que os homens que invadiram a sua residência estavam atrás de outro Jeffrey Lebowski (o verdadeiro Grande Lebowski interpretado por David Huddleston), um milionário velho casado com uma mulher muito mais nova (Tara Reid) que usava mais dinheiro do que ganhava de seu marido. Para tirar satisfações sobre o ocorrido, Dude vai até a sua mansão avisar sobre o que aconteceu, onde os dois se conhecem e falam sobre a vida.
Um dia, Bunny (Reid) desaparece e Lebowski é contratado por Brand (Philip Seymour Hoffman), o mordomo do Grande Lebowski, para pagar o resgate de sua mulher no valor de 1 milhão de dólares. Aqui o amigo do boliche de Dude, Walter (John Goodman), bola um plano para eles ficarem com o dinheiro ao teorizar que Bunny, na verdade, se auto sequestrou para pagar as suas dívidas e fugir, pensando nisso ele forja uma mala falsa para dar aos criminosos. No entanto, não é spoiler falar que a partir disso acontecem sucessivas bizarrices que dão o tom dessa comédia completamente imprevisível.
Assim como Fargo, O Grande Lebowski tem como seu maior ponto forte o roteiro com diálogos precisos e muito bem aproveitados além de um primor narrativo que consegue conduzir essa jornada com muita naturalidade, por mais que passe pelas situações mais inusitadas. Como foi dito anteriormente, os Irmãos Coen fazem “a sua própria brisa” em seus filmes, e O Grande Lebowski nada mais é do que uma das grandes ao ser construído através de passagens surrealistas e completamente sem sentidos, que materializa o que está passando na cabeça do seu protagonista.
Apoiado pelo carisma de Dude e personagens coadjuvantes como Walter e Maude (Julianne Moore), O Grande Lebowski entrega uma comédia com a assinatura dos Irmãos Coen, que não tem medo de ser nonsense para fazer com que a audiência dê risada das passagens, apostando no riso fácil, depreciativo e físico (3 pilares clássicos da comédia).
Entre sucessões de bizarrices, piadas, “brisas” e quebra de expectativas. O Grande Lebowski nada mais é do que um filme sobre vida, rotina e amizades, a grande diferença é que Dude consegue transformar a banalidade e monotonia de uma vida qualquer em ineditismo.
